Bernard Madoff estava próximo de completar 50 anos de história no mercado. Construiu sua fama através de relações pessoais; sempre pareceu muito acessível a todos. Com este jeitão, carrega em seu currículo a presidência da Nasdaq, a fundação da Madoff Securities e uma imagem de filantropo.
Mas a crise derrubou sua boa reputação. Desde 1960, a Madoff Securities sobrevivia com atividades rentáveis para seus clientes e administradores, até então não questionadas. A imagem de Madoff ajudava a não levantar suspeitas.
A pirâmide começou a desmoronar quando a crise que abateu os mercados em 2008 exigiu que muitos de seus clientes precisassem resgatar os recursos aplicados no fundo. De maneira simples, a complexa operação de hedge funds nada mais era que um esquema Ponzi em sua forma clássica.
Pirâmide gigante
A rentabilidade que Madoff prometia era paga aos investidores com o dinheiro obtido do ingresso de novos clientes. Exatamente o esquema de fraude piramidal que colocou Carlo Ponzi entre os grandes vilões da história dos mercados. Mas o esquema de Madoff se destacava pelos números, pelo tamanho da pirâmide.
A firma de Madoff possuía diversos hedge funds como clientes, controlava cerca de US$ 17,1 bilhões em ativos. Pela reputação, pela rentabilidade prometida, a Investment Advisory - segmento de hedge funds da firma - possuía uma vasta carteira de clientes. Entre eles, os bancos Santander, Fortis, HSBC, BNP Paribas e Royal Bank of Scotland, além de outras entidades como a francesa Natixis e o conglomerado japonês Nomura Holdings.
Por esta habilidade nas relações pessoais, a Madoff Securities ainda cuidava dos investimentos de estrelas de Hollywood e celebridades do mundo esportivo, como os milionários Norman Braman, dono do time de futebol-americano Filadélfia Eagles, e Fred Wilpon, do clube de beisebol New York Mets. Diversos eram os investidores pessoa-física da firma.
Uma grande mentira
Quando muitos tentaram resgatar suas aplicações sem sucesso, as suspeitas começaram a ser levantadas; o FBI passou a monitorar as movimentações de Madoff. As investigações apontaram 11 diferentes crimes, que incluíam lavagem de dinheiro, perjúrio e até desvio do plano de benefícios de seus funcionários.
Quando a pirâmide começou a desmoronar, Madoff não encontrou saída. As investigações culminaram com uma busca na cobertura de Madoff em Nova York. Os agentes chegaram em busca de provas e se depararam com o investidor de 70 anos, que parecia esperar pelo momento. Perguntado pelos agentes se havia alguma explicação inocente para o caso, não relutou: "Meu negócio é uma grande mentira", respondeu.
Pelo tamanho da pirâmide, a megafraude Madoff começou a ser investigada a fundo. Segundo as projeções, os crimes podem ter gerado um prejuízo acumulado de US$ 65 bilhões aos clientes da Madoff Securities, o que qualifica o caso como maior fraude financeira da história.
Contexto ideal
O contexto ajuda a contar a história de Madoff. Seu esquema caiu bem no meio da crise de 2008, que muitos criticam pela regulação falha que dava liberdade demais aos mercados. A megafraude em hedge funds é argumento infalível para estes críticos. Entre as particularidades do esquema, algumas são pitorescas.
Quando as investigações chegaram à auditora da Madoff Securitites, os agentes bateram no escritório da Friehling & Horowitz. Por lá encontraram uma secretária, um senhor de 78 anos e um contador de 47 anos. Três empregados e uma sala de 4m X 5m. Curioso para um esquema de US$ 65 bilhões.
50, 71, 150
Prestes a completar 50 anos de mercado, a Madoff Securities caiu com seu fundador, de 71 anos. O processo de julgamento foi marcado por um Madoff calado, cujas palavras se resumiram a inevitáveis reconhecimentos de culpa.
"Vivo em um estado de tormento por toda a dor e sofrimento que criei (...). Eu deixei um legado de vergonha. É algo que irá conviver comigo no resto da minha vida".
Para fechar um esquema superlativo, com cifras gigantescas, a pena máxima: 150 anos de prisão.
Fonte: Infomoney